segunda-feira, 31 de maio de 2010

Amor imperfeito


Tanto te amo e tanto eu me esforço.
Por quê tu não te esforças também?
Te esforça pra ser mais amável
e assim facilita a vida que a gente tem!

Pois tu me afetas e de ti não posso fugir,
Meu afeto foi condenado a ser enorme, infinito e inabalável
no que diz respeito a ti.

Sim, sei que da mesma forma tu sentes.
E tanto aprendo contigo, mas como pode
se tão imperfeito tu és? 

Teimosa, eu insisto em te admirar.
Por vezes acho que esqueço que tu és homem
como todos os demais e, por isso, imperfeito.
E quanta imperfeição!

Ainda assim sou capaz de te amar da mesma maneira. 
Mas como pode?
Nunca entendi e já desisti.
Só sei que amo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Moça toda prosa

Essa moça é toda prosa
Faz verso, fita e, nossa!
Olha como ela anda abusada
Desfila por ai toda cheia
Acha que pode tudo, nem titubeia
Pra ela nem a lua lhe é alheia
O jeito como ela olha... 
parece até que nem sei!
Só porque disse à ela outro dia
que era minha coisinha divina!
É pretensiosa...
...mente linda
Ah, disso ninguém duvida!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não

"Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não"

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Por Gentileza...

Por gentileza, eu te peço: Não se ria dos meus olhos que se marejam por  sentir demais, nem dos arrepios de que minha pele tanto sofre. E não se ria do meu sorriso só por aparentar não ter motivo nem também dos meus olhos que, às vezes, como cegos, miram a esmo. Não se ria desse meu jeito que, por vezes, parece bobo e até infantil, ele é tímido. É culpa do meu pensamento que voa solto, corre frouxo, sem rumo nem prumo... E se, por acaso, tiver algum apreço por esse pobre ser que tanto sofre de sentir, por favor, roube um pouco dele e guarde junto de ti.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Magnético


sua pele
irradia energia
me atrai como ímã
macia, com um toque envolvente
como sopro quente
me aconchega nos braços
onde eu me perco por querer
e por prazer
sem receio torno a fazê-lo
e vou lhe falar:
por muitos dias irei desejar
me perder no teu sorriso, boca, riso
e nem lembrar de me encontrar

sábado, 22 de maio de 2010

Plebeu

Ele ali,
renegado por si próprio, 
jogado ao léu, 
mal se lembra de quem foi. 
Recostado num banco sujo 
conta os carros que passam na avenida, 
sem propósito pra vida. 
Será que hoje terá comida? 
É livre, mas vive limitado a uma praça. 
É homem, mas criou raízes num canteiro. 
Talvez pense: "nunca desistirei". 
Se isso é bom ou ruim, não sei. 
Ele não tem direção, é como um plebeu sem rei.
Maltrapilho, fétido... 
Será que sempre fora assim? 
Alma sempre tivera, apesar de qualquer adversidade. 
Disso sempre se lembra até com certa facilidade 
e julga-se importante sem jamais ter sido premiado com medalha ou troféu, 
simplesmente por saber já ter sido para alguém como um pedaço de céu.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sagaz

Certa vez foi falado que o melhor aprendizado é aquele aprendido na vivência, porém um jovem que afirma ser sagaz conta que aprende com as vivências alheias além das suas, pois para ser sábio precisaria de muito e era certo que não haveria tempo hábil para tanto aprender somente por suas próprias experiências. Ele nunca precisou encostar num espinho para conhecer a dor, pois se, de antemão, percebe que as rosas tem espinhos, um homem sagaz só sente seu perfume de pertinho, sem tocá-la.


Um dia aquele jovem leu sobre a tristeza e as lágrimas, algo descrito como a tentativa de colocar para fora um determinado sentimento, lavar a alma de algum mal. Achou poético, mas teve a ideia de usar água de cheiro quando precisasse lavar sua alma, água de cheiro feita das pétalas daquela rosa que conhecera numa outra leitura. Ponderava que era trabalhoso demais para seu corpo passar por todo aquele processo complexo de expelir água pelos olhos, além do que a sensação contada nos escritos que leu não era das mais agradáveis de se ter, por outro lado o perfume das rosas parecia lhe agradar e até seria prazerosa a atividade de colher pétalas, misturar à água e banhar-se nela. Tomou nota então.


Em determinada manhã leu sobre o mar, coisa que jamais havia olhado a não ser pelas gravuras das páginas, contava que era profundo, azul cintilante, imenso e lindo (em dias de sol brilhante), mas em dias cor de cinza era cinza, cintilante e medonho. Em dias claros, entretanto, era muito bom de se ver, molhar os pés e talvez até arriscar um mergulho, mas o mergulho somente era seguro se já se julgasse conhecedor daquele mar, achando prudente dar um voto de confiança, afinal, o mar tem ondas e pode derrubar uma pessoa. E também outra coisa: deveria haver alguma admiração dele por aquelas águas, para valer o risco. Do contrário não valeria a pena. Aconselhava em conjunto que só se mergulhasse depois que, adentrando o mar, a água chegasse, pelo menos, à altura de seu umbigo, eis que mergulhando no raso corria o risco de dar com a testa no chão e quebrar a cara, literalmente. Era lógico, concordou.

Em outra oportunidade o jovem aspirante a sábio procurou um livro que lhe falasse sobre o amor. Logo nas primeiras linhas leu a seguinte frase: "Na brevidade de um amor latente, felizardo é o ser por ele acometido."

Brevidade? Latente? Já havia escutado que o amor era eterno, isso era contraditório. Latente até poderia ser, mas se era breve como poderia chamar de amor? Após a leitura de algumas outras páginas que se seguiram ele pode compreender que, em apertada síntese, amor é mais ou menos querer bem a um ser sem dele carecer ou esperar recompensa. Lhe pareceu justa essa definição. 


Refletindo, chegou a conclusão de que o tal amor breve e latente não era, de fato, amor e que se enquadrava melhor na definição de paixão, que conhecera através de um homem que lhe contou sobre uma certa pintura que fez. Não julgou importante ponderar qual dos dois era o melhor: amor ou paixão, tendo compreendido que eram simplesmente diferentes. A paixão, fugaz e efêmera, arranca suspiros, deixa saudades; o amor, por sua vez, é longo, suave e zeloso, sim, é menos arrebatador, mas cabe nele tanta compreensão!

(...)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

[tes]Ouro

Reluzente sem ser ouro
Mesmo assim é tesouro
Não se esconde nem mesmo se guarda
Gosta de brilhar e ser admirado
Vaidoso como é acredita que é sábio
Esse é seu único defeito
Que com algum carinho pode ser superado
Pois tem muito que lhe compense
Ideia, afago, sugestão
Tudo sem suspense
Paciente, cheio de encantos
Certos tesouros ao se dividir são multiplicados

terça-feira, 18 de maio de 2010

O Pequeno Príncipe - XXI

E foi então que apareceu a raposa:

- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.


Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.


O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso que haja um ritual.
- Que é um ritual? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um ritual. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!


Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.


Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Minha Janela Preferida


Da minha janela preferida só se via o que era sereno, o que trazia paz e conforto. A vidraça translúcida e reluzente fazia questão de mostrar de um novo ângulo tudo o que se passava. De início, receio. Depois, confiança, respeito e até crença. Ensinava a virtude da calma, às vezes em silêncio absoluto, no qual se podia tudo. O tempo não era mais inimigo, era aliado, pois parava a cada reflexão, mesmo que inconclusiva. Tudo era motivo: sol, sorriso, chuva, estranhas dimensões... Dizia do jeito dela: "O chão está sujo, mas é simplesmente superfície e a roupa que se lave depois. Senta aqui sem pressa e vamos pensar na vida, conversar sem rumo, sem compromisso com o pertinente". Mostrava um  ponto de vista estranho a mim até aquele momento, inovava e, aos poucos, me encantava. Não é que esquecesse o meu pensar, mas mesclava ao dela e assim me fazia sentir mais rica. Quanto mais olhava através daquela janela mais ela me absorvia e eu, a ela.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Anéis/Alianças

há anéis que querem ser aliança
na esperança de encontrar segurança
vínculo materializado
agora sim, perfeito
mas se, insolente, o anel vai pelo ralo
o que não é raro
ah, que triste desfecho
desalento de um amor sonolento

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pimenta

E se a mais ardente pimenta é a antiga, 
o mais ardente amor é o novo

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Desejo

Invadiu meu ser, me consumia sem dó
Um calor que se instalava por todo meu corpo
E em minha cabeça era capaz de dar nó
O desejo era gritante e eu já rouca e cansada
Sem mais condições, não aguentava
Só naquilo eu pensava
Apressada fui ao seu encontro
Ávida pra curar meu pranto
Enfim cheguei, meu doce deleite
Na geladeira um litro d'água
Matei assim minha sede!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Incógnito

É espelho, intransponível
À simplória vista, patente
À sensível, profundeza sem fim
Prazer é olhar-te e me deixar envolver

É oceano, intrigante
Obscura superfície
Tanto mistério esconde
Prazer é mergulhar-te e me deixar absorver

É noite, fascinante
Breu, que não impera absoluto
Graças ao luar e às estrelas
Prazer é admirar-te e me deixar amolecer

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Diferenças

Vestia os olhos com amor para melhor o outro ver, mesmo que feio lhe parecesse, moldava com ternura o seu perceber. Por detrás da carapaça alguma beleza havia de encontrar, e, se todo mundo é feito de defeito, tantos seria capaz de suportar. Caso não entendesse procurava razão, e se não encontrasse... Ah, deixa estar! A beleza da gente está na dificuldade que há em executar essa tarefa impossível que inventamos de a cabeça do outro desvendar. Infinitas são as diversidades para assimilar, porém, não se pode esquecer: o próximo amar é o mesmo que as diferenças aceitar.

domingo, 9 de maio de 2010

O amor e a flor


"O amor tem as mesmas carências da flor
Quando plantado tem que ser cuidado
O amor para crescer e florescer
Com carinho tem que ser regado"
José Aparecido Botacini

sábado, 8 de maio de 2010

Ideias novas

Bem mais observadora que o usual, criticava a si mesma e a todos. A ideia fluia fora do seu controle, mas pela boca não poderia escapar. O filtro de bom senso a seguiu e se tornou super-rigoroso. Presas ali dentro, as tais ideias borbulhavam muito mais. O céu era expressão sem ninguém saber, pois ela não poderia contar. Tudo era ridículo e sem sentido. Ela só observava, em paz por fora e por dentro espanto. Tudo novo!

Seu pensamento flutuava sem parar. Ela, por sua vez, era só reflexão. Em cada detalhe uma nova descoberta. Olhava sem pudor, pois, para ela, tudo aquilo não passava de uma mostra, um cenário montado, uma ideia viva e gritante bem na sua frente simplesmente para assistir e absorver.

A impressão que tinha era que nenhum deles percebia o que se passava. Só ela entendia bem o que estava acontecendo, mas não se arriscaria a começar a falar. Deixou os outros de lado, aquele momento era só dela. Iria então desfrutar daquele lapso de consciência eloquente porque tinha certeza de que seria o único momento de sua existência, como uma luz ou uma treva que passaria sem voltar ou deixar rastros.

Se sentia curiosa com tudo aquilo, mas feliz não poderia dizer que estava pois sabia não ter preparo para aceitar aquela outra percepção. Aquelas ideias eram grandes demais para sua cabeça (que nunca foi pequena).

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Um dia você aprende…


Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança ou proximidade. E começa aprender que beijos não são contratos, tampouco promessas de amor eterno. Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos radiantes, com a graça de um adulto – e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, pois o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, ao passo que o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.



Depois de um tempo você aprende que o sol pode queimar se ficarmos expostos a ele durante muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe: algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferí-lo de vez em quando e, por isto, você precisa estar sempre disposto a pedoá-la.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva um certo tempo para construir confiança e apenas alguns segundos para destruí-la; e que você, em um instante, pode fazer coisas das quais se arrependerá para o resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e que, de fato, os bons e verdadeiros amigos foram a nossa própria família que nos permitiu conhecer. Aprende que não temos que mudar de amigos: se compreendermos que os amigos mudam (assim como você), perceberá que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou até coisa alguma, tendo, assim mesmo, bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito cedo, ou muito depressa. Por isso, sempre devemos deixar as pessoas que verdadeiramente amamos com palavras brandas, amorosas, pois cada instante que passa carrega a possibilidade de ser a última vez que as veremos; aprende que as circunstâncias e os ambientes possuem influência sobre nós, mas somente nós somos responsáveis por nós mesmos; começa a compreender que não se deve comparar-se com os outros, mas com o melhor que se pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se deseja tornar, e que o tempo é curto. Aprende que não importa até o ponto onde já chegamos, mas para onde estamos, de fato, indo – mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar servirá.
Aprende que: ou você controla seus atos e temperamento, ou acabará escravo de si mesmo, pois eles acabarão por controlá-lo; e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada ou frágil seja uma situação, sempre existem dois lados a serem considerados, ou analisados.
Aprende que heróis são pessoas que foram suficientemente corajosas para fazer o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências de seus atos. Aprende que paciência requer muita persistência e prática. Descobre que, algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, poderá ser uma das poucas que o ajudará a levantar-se. (…) Aprende que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido: simplesmente o mundo não irá parar para que você possa consertá-lo. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Portanto, plante você mesmo seu jardim e decore sua alma – ao invés de esperar eternamente que alguém lhe traga flores. E você aprende que, realmente, tudo pode suportar; que realmente é forte e que pode ir muito mais longe – mesmo após ter pensado não ser capaz. E que realmente a vida tem seu valor, e, você, o seu próprio e inquestionável valor perante a vida.
Esse texto roda a internet como sendo de autoria de Shakespeare, mas há quem afirme que se trata da tradução de um poema da autora americana Veronica Shoffstall com alguns enxertos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Bela

traços de incontestável harmonia
entretanto a mente vazia
queria acreditar que a beleza supria
a ausência de qualquer sabedoria
simplesmente sorria
"com esses meus olhos só preciso piscar", dizia
pura hipocrisia
nem ela mesma acreditava em tamanha porcaria

terça-feira, 4 de maio de 2010

Devaneio


Sonho quase adormecido

Quase é consciência 
Quase é elevação

Lúcido devaneio

Nele pode tudo

Cria
Mata
Sente
É

Como dança
Ora leva
Ora levam-no

Profetiza
Quase decide
Por vezes
Do controle escapa

Criatura
Avivou-se
Ganhou nariz
Desvencilhou-se 

Rende-se o autor
Habituado a tal audácia

Levemente
Permite-se levar

Deita
Deixa
Sonha
Dorme

Acorda, então
Ideias em turbilhão...
Será intuição?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A palavra e o tempo

Passa o tempo e as palavras não vêm
Eis que chegam finalmente as palavras
Mas e o tempo?




O tempo já passou...



domingo, 2 de maio de 2010

Naufrágio



Sozinha na multidão
Como tantos outros
A sós consigo mesma
Esperava por resgate

Soprou a mensagem
Qual será o destino?

Naufragou numa ilha
Mas sonhava sair dela
Seria possível?

Imaginava-se voando
Encontrando a paz
Desejada paz de alma
Idealizava o bem viver
Que ali não poderia estar

Juntou-se a outro náufrago
Compartilhavam tal propósito
Deram as mão
Eram fortes
Seguiram com esperança

De início planejaram
Dia após dia, pouco a pouco
Traçaram uma rota
Detalhes e mais detalhes

Arquitetaram uma embarcação
Testaram por precaução
Era hora de esperar 
O dia perfeito chegaria
Iriam embarcar rumo a paz

Quanta expectativa
Viveram naquela agonia
Por longos tempos
Enfim o tal dia se aproximava
Conforme precisos cálculos
Seria no próximo entardecer

Eis que surgia o esperado crepúsculo
Que fascínio
Um lindo céu de batata doce
Observar era como fazer uma prece
Era como estar em transe 

Quando se deram por conta
Tarde demais, que sorte
Foi-se o tal momento perfeito
Não embarcaram, nem esbravejaram
Tudo era fantasia 
A paz que tanto almejavam
Dentro daquela velha ilha estaria?

Não foi necessário embarcarem rumo à paz
A paz embarcou rumo a eles
Invadiu suas almas com sutileza
O esperado pôr-do-sol
Foi mesmo digno de espera
Tal qual realeza

sábado, 1 de maio de 2010

O todo

Sou imortal.

Partícula de energia imortal, perpétua, que integra o todo. Este todo é formado por uma teia de energia vital pela qual está interligado tudo o que existe: todos os homens, todos os animais, toda vegetação, todos os planetas, a lua, o sol... Tudo o que existe em todo infinito universo.
A teia é dinâmica, movida por trocas contínuas de energia entre as partículas que constituem o todo. Uma partícula, mesmo sem consciência e poder de escolha, interferindo no modo de existir das outras e vice e versa. Assim é a interferência das diferentes fases da lua no mar que enche ou recua sem explicação aparente.
Dessa maneira, se parte está em desarmonia, o TODO também está. Se o TODO não pensa como TODO, mas sim como parte, o universo está doente. Não existe parte sem o TODO. O individual só existe porque vibra com o os demais.
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